quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Denúncia digital

Há uma hora estou sentada no sofá, me deleito com Anaïs Nin, suas palavras fazem qualquer corpo esquentar. Estaria cem por cento entregue se não fossem as pequenas manchas que me chamam a  atenção nos vidros das portas da varanda. Me permito mais quinze minutinhos, depois, não conseguirei conter tal incômodo.

Pego uma flanela e o produto de limpeza, o fiz em casa mesmo, água, álcool, vinagre do mesmo e detergente, que no rótulo diz ser ecológico e eu acredito. Pensar que contribuo o máximo me faz feliz, gosto do verde, das copas lambendo o céu, dos desenhos feitos pelas raízes, gosto desses lugares que nos fazem esquecer que há muita sujeira, pra qualquer lado que olhemos.

Mas a realidade além dos meus vidros é outra, mesmo agraciada com lindas árvores que parecem se alongar em busca do calor do sol, abaixo, sentados em desconfortáveis bancos de concreto... para que bancos confortáveis se já não há tempo de sentar-se pelo simples prazer de, sentar-se? Braços abertos apoiados ao encosto, entregues ao ócio, cabeça jogada para trás, olhos levemente cerrados e, pernas que se esticam e se cruzam numa gostosa e descompromissada preguiça... é, já não há mais tempo pra esses pormenores.

As pessoas passam apressadas, celulares à mão, o pensamento parecendo estar três semanas à frente, passos largos, as árvores são deixadas para trás, despercebidas. Há um homem de meia idade sentado em um dos bancos, penso que tudo não está perdido, é então que percebo que a curta parada serve apenas para arrumar um pacote que se desajeitara no trajeto, ele logo se levanta e se entrega ao imediato.

Continuo com minha limpeza, estando no terceiro andar, o romance das árvores se coloca mais próximo a mim do que toda a cinza realidade daquele concreto. Namoro alguns passarinhos que ainda teimam em cantar. Fecho os olhos me entregando aos gorjeios dos que ainda são livres. Sei exatamente onde se encontra cada mancha, enquanto o braço continua preso aos movimentos de círculo posso deixar a alma livre e ainda acreditar no amor.

Ao abrir os olhos, vejo que há um casal na praça, chegaram em meio aos meus devaneios, não devem ter mais que 25 anos e algum tempo pra inércia. Não escolheram um dos desconfortáveis bancos de concreto para depositarem seus corpos, dispuseram algo que, me pareceu ser um lenço, desses grandes, à sombra de uma figueira. Adoro as figueiras, parecem feitas de raízes rebeldes que se recusam a esconder-se no chão e explodem numa busca incessante pelo azul ou... seriam caules curiosos mergulhados nos segredos da terra? ... quem o sabe!

Fico tão absorta diante daquele vidro que não percebo quando você chega e me abraça por trás. Mãos segurando meus seios, levando meu corpo ao encontro do seu. E o hálito quente sussurra em meu ouvido, - olha o casalzinho. É aí que percebo que, enquanto ela lê o que parece ser uma antiga antologia poética (não consigo enxergar, dessa altura, o livro, mas gosto de pensar nas poesias), joelhos dobrados levando as pernas pro mesmo lado e corpo encostado ao corpo do jovem que a acolhe sentado de pernas, levemente, abertas pra que ela se aninhe confortavelmente e, um dorso que convida ao largar-se, ele cochicha coisas que a fazem rir e suspirar entre um verso e outro, ele habilmente escorrega sua mão pra debaixo da saia da moça que, tenho certeza, não a escolheu por um acaso.

Você beija minha nuca enquanto assistimos à cena, leva meu corpo de encontro ao vidro onde espalmo minhas digitais. Eu me empino, como gosto de fazer isso pra você, fico de um jeito que possibilite o que quer que esteja pensando em fazer. O vidro embaçado nos denuncia. Você larga um de meus seios e leva seu sexo ao meu, mete e logo o tira, só quer deixá-lo melado de mim. Me aperta mais forte contra a porta da varanda e, antes que meu suspiro chegue ao fim , você está todo dentro da minha bunda. Enfia rijo como se quisesse rasgar meu cu. Se apoia no vidro com umas das mãos, deixando a pista de que tenho um cúmplice nesse crime, a outra mão você escorrega do meu seio segurando forte minha pélvis, ditando o ritmo do movimento. Eu não resisto, me entrego toda ao seu desejo. 

A cortina de voal acaricia nossos corpos numa dança ritmada por uma leve brisa quente. Você continua me comendo como se eu estivesse ali apenas para servi-lo, jorra sua porra que me inunda e escorre por entre minhas pernas já amolecidas. De novo o hálito quente em meu ouvido, - o vidro continua sujo.

Eu descanso alguns segundos, na mesma posição que me colocara, você está jogado no sofá com aquele sorriso sacana de canto de boca, eu me volto com a melhor resposta que há para esse seu sorriso. Mordo o meu lábio inferior que vai escorregando dente por dente, até me abrir num  largo sorriso de quem quer muito mais e ... monto em você.

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