segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Carta pra quem quiser ler - 20/10/2020

Querido Amigo,

Mesmo sem empunhar uma caneta e, o cheiro do papel, escrever estas linhas será, com certeza, um prazer que não tenho há muitos. Devo-lhe meu sincero obrigado por isso.

Bem, voltarei ao assunto que deixamos no whats'app. Para isso, falarei um pouquinho (não será um pouquinho, vc já deve saber ... rsrsrs) de mim.

Aos 48 anos sei como meus sentimentos e corpo funcionam. 

Justamente por nunca ter me furtado de sentir tudo que a vida me permitiu, fui percebendo que precisava muito mais do que um corpo bonito e charme fugaz pra que eu me encantasse.

Claro que experimentei sexo casual. O ato era bom, dava prazer, havia tesão. Pudera se não houvesse nada disso, ou eu estava morta ... rs, ou algo estava muito, muito errado. Não, necessariamente, algo deveria estar errado, eu poderia ser assexuada, que sabemos não ser nenhum problema, mas não é o meu caso. A questão era o vazio que ficava depois, um buraco tão fundo que me incomodava, fui ficando cada vez mais sozinha. Momentos de prazer não valiam o incômodo do vazio.

A boa conversa me deixava embevecida. Eu era um único suspiro que não tinha fim. O tesão era na alma, e isso foi intrigante e fantástico de se perceber. Se me fosse mandado escolher um dos dois, boa conversa  ou sexo, sem a menor possibilidade deles estarem juntos, eu escolheria, com certeza, a boa conversa.

Ao constatar isso, passei a lidar com um paradoxo, um corpo suscetível ao menor estímulo e uma alma sedenta de tesão. Suprir o corpo com a presença de outro, era coisa fácil, mas toda a sensação se liquefazia no gozo. Já a alma, quando tocada, era um prazer que grudava, que se fundia em mim, e isso era a própria plenitude.

Fora o fato de que satisfazer o corpo é algo que faço muito bem só. Já a alma, mesmo com os livros, a dança, toda a arte da qual consigo me cercar, necessita de um interlocutor. A troca é o que proporciona o gozo pleno. Como gostaria que fosse possível acariciar meu intelecto com a mesma destreza que faço com meu sexo. Aí, eu trancaria a porta de vez e jogaria a chave fora... rs...  Mas a vida não foi feita pra cem por cento de solidão, já aprendi isso.

Você conseguiu tocar num lugarzinho de difícil acesso. Quer dizer, o lugar está aqui, é só tocarem, mas poucos conseguem. Eu até tento desenhar um mapa, uma carta náutica, afinal, cada um percorre o caminho como quiser, o importante é chegar. Mas nada facilita. Até porque, a sensibilidade necessária pra se ler o mapa e trilha-lo é a mesma pra se perceber que o caminho do meu corpo passa primeiro pelo meu intelecto, pela minha alma.  É um misto de frustração, revolta, desesperança. Deixando a pouca elegância que tenho de lado ... rs ... fico puta!

Há períodos de um longo recolhimento. Mas minha alma é feita de pura paixão, e custa a acreditar que não mais ficará suspirando com os olhos perdidos, saudosa daquele abraço em que se aninha e a prosa que a embala. E claro..., das mãos fortes que seguram os braços e puxam o corpo pra si, onde olhos sedentos se encontram e selam a saudade com um beijo.

Há momentos de dor, a vida é assim. Porém, existe prazer em transformar a dor em palavras, em expectativas, em sonhos adolescentes, em suspiros abraçada ao travesseiro. Disso, nunca quero me furtar. Preciso das minhas paixões, mesmo quando não compartilhadas.

Até a próxima.

Um abraço da sua amiga de infância ... Vi.


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